Isolamento e cultivo de células-tronco do tecido pulpar sem necessidade de exodontia

Avanços recentes trouxeram uma nova possibilidade menos invasiva de obtenção de células-tronco. Fique por dentro da análise inovadora.

Um estudo publicado na conceituada revista científica Stem Cells International, em junho de 2021, descreve a eficácia de uma técnica para obtenção de células-tronco derivadas da polpa dental em pacientes adultos, sem a necessidade de exodontia. A pesquisa intitulada “Influence of dental pulp harvesting method on the viability and differentiation capacity of adult dental pulp-derived mesenchymal stem cells” foi capitaneada por pesquisadores da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas, e da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, em parceria com o R-Crio (Centro de Processamento Celular e Criogenia), em Campinas. O trabalho foi resultado de um projeto de iniciação científica do então graduando em Odontologia da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, Victor Okada Vendramini, que foi orientado pelos professores André Antonio Pelegrine e Antônio Carlos Aloise.

O método avaliado pelos pesquisadores, para obtenção da polpa sem a extração do dente, ou seja, por meio de uma pulpotomia, passou por um apurado processo de validação. Os resultados mostraram alta viabilidade celular pós-cultivo (acima de 90%), equivalente ao resultado obtido pela obtenção da polpa pós-exodontia. Como a pulpotomia é menos invasiva do que a extração dental, os autores concluíram que é plausível a coleta de células-tronco de dentes permanentes mesmo em adultos, sem a demanda pela extração, desde que seguida de tratamento endodôntico.

Neste estudo, com desenho do tipo split mouth, os pesquisadores utilizaram terceiros molares para testar o método proposto e compará-lo com o tradicional (exodontia). Em um dos lados, foi extraído um terceiro molar e do outro utilizou-se a técnica da pulpotomia para a coleta do material do terceiro molar correspondente (Figura 1). Os resultados das avaliações de viabilidade celular, imunofenotipagem e ensaios de diferenciação das células-tronco nas linhagens osteogênica e condrogênica (Figura 2) permitiram que os autores do estudo vislumbrassem a possibilidade de uso desta técnica de isolamento de células-tronco por meio de tratamentos endodônticos de polpa viva.

As células-tronco derivadas da polpa dental são algumas das mais versáteis, pois têm origem ectomesenquimal, podendo ser utilizadas na bioengenharia para a reconstrução de tecidos, tanto de origem ectodérmica como mesenquimal. Isso abre um importante leque no âmbito da Medicina Regenerativa, já que estas células podem se diferenciar em células especializadas do tecido ósseo, cartilaginoso, adiposo e neural. Isso chama a atenção para a importância do cirurgião-dentista neste escopo, pois ele é o único profissional da saúde capacitado para obtenção deste tecido tão rico. A São Leopoldo Mandic, mais uma vez, mostra a sua patente característica técnico/científica, a qual faz parte do seu DNA.